Fábio Bosco
No dia 17 de abril, o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, se reuniu em Brasília com o chanceler brasileiro Mauro Vieira e com o presidente Lula.
Lavrov afirmou que a Rússia e o Brasil compartilham uma visão similar sobre a guerra na Ucrânia, e reafirmou que a Rússia apoia o pleito do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Lavrov ainda agradeceu os esforços do Brasil por uma “solução”, mas disse que a Rússia busca, na guerra, objetivos mais duradouros, leia-se, a anexação de território ucraniano.
De fato, desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro de 2022, o Brasil se posiciona contra o direito de autodeterminação do povo ucraniano. O ex-presidente Jair Bolsonaro visitou Putin e expressou sua solidariedade com a Rússia às vésperas da invasão. Além disso, Bolsonaro se recusou a vender munição para bateria antiaérea que seria entregue à Ucrânia pela Alemanha. Por fim, Bolsonaro duplicou o comércio com a Rússia, auxiliando o esforço de guerra russo.
O presidente Lula deu continuidade à política de Bolsonaro. Antes de ser eleito, Lula afirmou que a Rússia e a Ucrânia são igualmente responsáveis pela guerra. Uma vez eleito, Lula se recusou a vender munição para tanques de segunda mão que seriam entregues pela Alemanha para a Ucrânia. No retorno de sua viagem para a China, Lula criticou os Estados Unidos e a Europa pelo envio de armas para a Ucrânia. É claro que, sem armas, a Ucrânia seria esmagada pelo poderio militar russo.
Por motivos diferentes – Bolsonaro porque se identifica com o regime autoritário russo, enquanto Lula se alia a ele em busca de mais espaço numa ordem mundial em crise, – ambos desprezam os corpos de cem mil ucranianos mortos pelo exército de Putin e pisoteiam sobre o direito dos povos oprimidos à autodeterminação.
Direito de autodeterminação dos povos oprimidos ou a força das armas
O presidente Lula não nega o direito à autodeterminação apenas ao povo ucraniano. Em visita à China, o Brasil deu sinal verde às agressões do regime chinês contra Taiwan ao afirmar que Taiwan é parte do território chinês. O direito do povo de Taiwan à autodeterminação é sacrificado em benefício das boas relações com o regime chinês, muito mais poderoso.
Aparentemente, a diplomacia do governo Lula abandonou a defesa dos direitos dos povos oprimidos à autodeterminação e adotou a visão “realista” de que o que vale é a força das armas.
O campo capitalista “progressivo”
O apoio implícito de Lula às agressões da China contra Taiwan e à invasão criminosa de Putin na Ucrânia é saudado como positivo por muitas forças de “esquerda”, fruto da influência histórica do estalinismo.
Estas forças de “esquerda” abandonaram a defesa do socialismo, e a perspectiva da luta de classes como o motor da história. Limitam-se a defender o que denominam de “campo progressista”, ou seja, os países capitalistas que disputam mercados e colônias com o imperialismo americano. Para isso fecham os olhos para os 100 mil ucranianos assassinados por Putin na Ucrânia, o fim das liberdades democráticas em Hong Kong ou os campos de concentração impostos em Xinjiang pelo regime chinês contra o povo Uighur.
A defesa das liberdades democráticas e o direito à autodeterminação dos oprimidos é abandonada em meio a expressões como o “não alinhamento” e à “multipolaridade” nas relações internacionais. Mas a classe trabalhadora não ganha nada com isso.
Na viagem à China, Lula firmou 15 acordos em várias áreas.
Um desses acordos visa fortalecer as exportações do agronegócio brasileiro à China. Isso não trará solução para os 33 milhões de brasileiros que passam fome enquanto o país destina suas melhores terras para o agronegócio, aumenta o preço do arroz e feijão, e bate recordes de exportação de alimentos.
Outro acordo fala sobre defesa do meio-ambiente. Que defesa será esta já que a China disputa com os Estados Unidos a liderança mundial em poluição ambiental e destruição da natureza?
Lula afirma que estes acordos têm como objetivo reindustrializar o Brasil e gerar bons empregos. Mas a realidade é que as empresas chinesas são capitalistas e, portanto, adversárias dos direitos trabalhistas e do emprego. Eventuais investimentos no Brasil tem o único objetivo de drenar as riquezas do país e concentrar renda.
A hipocrisia do imperialismo americano e europeu
O campo imperialista americano e europeu também não tem nada a oferecer à classe trabalhadora mundial.
Eles têm um longo histórico de apoio a ditaduras e a guerras contra o direito de autodeterminação como o Vietnã, a Argélia, o Afeganistão e o Iraque são testemunhas.
Na Ucrânia entregam armamento de segunda mão e em pouca quantidade, o que impede a resistência ucraniana de derrotar as tropas de Putin rapidamente.
Uma alternativa da classe trabalhadora
A alternativa para a classe trabalhadora brasileira e mundial não passa pela subordinação aos interesses do imperialismo americano e europeu, nem pelo apoio às atrocidades de Putin e Xi Jinping, e nem pela implantação de ditaduras stalinistas capitalistas.
A alternativa passa pela defesa dos direitos democráticos e de um socialismo dos trabalhadores e trabalhadoras.
O apoio à resistência ucraniana e ao direito de autodeterminação do povo taiwanês são passos importantes nesse caminho.
É importante levar esta discussão aos locais de trabalho e escolas, e lutar para que o governo Lula mude de posição e se alinhe aos interesses da classe trabalhadora em defesa do direito dos povos oprimidos à autodeterminação.
Todo apoio à resistência ucraniana! Armas para a Ucrânia!
Nem Putin nem Otan! Por uma Ucrânia independente, livre e soberana governada pelos trabalhadores!