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Vários grupos de voluntários russos organizam-se para ajudar quem foge da guerra a sair da Rússia. A atividade não é ilegal mas relatam pressões das autoridades russas.
Nem todos os ucranianos que são forçados a fugir do seu país por causa da invasão russa se dirigem a ocidente. Em alguns casos, o seu destino acaba mesmo por ser a Rússia. E aí têm sido ajudados por redes clandestinas de cidadãos russos solidários.
A Reuters dá conta da existência de pelo menos três diferentes grupos de voluntários que se organizaram para ajudar os refugiados ucranianos. Um deles é o “Helping to Leave” que foi fundado no próprio dia da invasão. Entretanto reivindica ter já conseguido fazer com que cerca de mil refugiados deixassem a Rússia e conta com cerca de cem pessoas no interior do país e tantas outras fora.
A agência noticiosa falou com a sua co-fundadora, Naturiko Miminoshvili, que vive em Tbilisi na Georgia, e que explica que os voluntários recolhem pessoas em suas casas e ajudam com dinheiro, informação sobre os seus direitos e rotas de viagem seguras. Estes ativistas denunciam que há casos em que as autoridades russas estão a forçar refugiados a ir para destinos que não desejados ou em que lhes dizem que não têm permissão para sair das instalações em que foram alojados.
Outro dos grupos chama-se simplesmente “Voluntários Tiblisi”. A jovem russa que é uma das suas responsáveis, Maria Belkina, informa que ajudaram cerca de 300 ucranianos a sair da Rússia e que, para além disso, se dedicam a fornecer ajuda humanitária aos refugiados que estão na Georgia. Segundo ela, “muitas pessoas da Rússia estão a escrever-nos e a perguntar: como é que posso ajudar?”
Existe ainda o Rubikus que é coordenado a partir do Reino Unido por Svetlana Vodolazskaya. Esta estima em 1.500 o número de pessoas que o seu grupo ajudou a sair da Rússia. Apesar de nenhuma lei impedir concretamente este tipo de ajuda, há relatos de repressão a que ouse fazê-lo. Por exemplo uma das ativistas do Rubikus que ajudava ucranianos a entrar na Estónia deixou de o fazer depois da polícia a ter detido e questionado durante horas sem direito a advogado. Depois disso não foi acusada formalmente de nada mas a intimidação terá funcionado.
A Reuters conta igualmente a história a partir do ponto de vista de quem fugiu. O operário da construção civil Bogdan Goncharov saiu de Mariupol em meados de março com a sua mulher e filha de sete anos. Acabou por ser alojado pelas autoridades russas em Yalta, na Crimeia, que lhe terão dito que não tinha direito a viajar sem o estatuto de refugiado. Temendo as notícias de que muitas pessoas estariam a ser enviadas pelas autoridades russas para a Sibéria, procurou ajuda através de conhecidos na Alemanha que lhe acabaram por indicar o grupo Helping to Leave. Conseguiu por via dele chegar à Estónia e depois à Suécia. Foi “um milagre” sair, afirma.